O Instituto das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor, seguindo as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), há duas semanas suspendeu temporariamente as suas atividades nas Unidades da Rede Oblata Brasil. O distanciamento social é necessário para minimizar a expansão da contaminação pelo (COVID-19).
Apesar do fechamento das unidades, as equipes continuam atuando home office para atender às demandas das mulheres que exercem a prostituição, buscando estratégias junto a diversas instituições frente à pandemia.
Não obstante, o trabalho continuará através da articulação em rede, atendimento virtual às mulheres, elaboração de materiais gráficos de formação e informação com o objetivo de tranquilizar e informar as mulheres, entre outras ações que a realidade local exige.
O exercício da atividade prostitucional apresenta particularidades conforme a região do país em que está localizada, o que demanda de cada Unidade da Rede Oblata uma atuação distinta.
O que há em comum entre os projetos: a vulnerabilidade socioeconômica a que estão expostas às mulheres que estão no exercício da prostituição. Em função das urgências impostas pela necessidade da sobrevivência, muitas mulheres apresentam dificuldades para abandonar os locais de prostituição e alguns administradores destes locais se valem desta fragilidade para mantê-los abertos. Somente fecham mediante a ordem do Estado ou a presença da polícia, como ocorreu no último domingo dia 21/03 em 4 hotéis da região central de Belo Horizonte.
A necessidade do distanciamento social (#fiqueemcasa), desvelou o abandono social a que certas populações estão submetidas. A desigualdade social traz reflexos mais intensos para a classe trabalhadora, uma vez que, “ficar em casa” não é uma opção viável para estes.
Indubitavelmente a pandemia atinge de maneira distinta as pessoas, principalmente ao se levar em conta a sua classe social. Aquelas com menores recursos econômicos têm e terão maior dificuldade para garantir recursos para prover suas necessidades básicas. Tanto que, nos últimos dias ganharam mais força a luta diária pela sobrevivência; as mulheres têm solicitado das Unidades da Rede Oblata o básico para a sua subsistência: a alimentação para elas e para suas famílias. Solicitam também passagens para retornar para seus lugares de origem e abrigamento para as que não podem ou por algum motivo, não desejam ir para casa.
Há o relato de que a proprietária de um “bordel” solicitou a uma de nossas Unidades, máscaras de proteção para as mulheres, para que elas continuem a trabalhar. É notório que o lucro advindo da prostituição, não beneficia somente às mulheres que se prostituem.
Nossa sociedade embasada em um sistema hetero-patriarcal-capitalista valoriza mais o lucro e o bem estar de uma determinada classe social, onde a vida de uns valem mais do que a vida de outros, especialmente “outras”. Nos questionamos: a vida de mulheres empobrecidas, prostituídas, moradoras das periferias valem menos que outras vidas? Garantir direitos humanos fundamentais a todos os seres humanos é uma questão ética é obrigação do Estado.
Diante desses desafios, nós da Rede Oblata estamos “tecendo” varias redes de articulação e enfretamento dessa realidade juntamente com o poder público, ONG’s, diversas instituições sociais e empresas para minimizar as dificuldades enfrentadas pelas mulheres.
As principais ações que estamos desenvolvendo são:
- Apoio às iniciativas dos coletivos de mulheres;
- Articulação com empresas, instituições religiosas e outros para a doação de cestas básicas e artigos de higiene;
- Apoio social e psicológico via whatsapp;
- Articulação com o poder público através da Secretárias do Migrante; Centros Pop’s e consultórios de rua e outros;
E, como sempre as mulheres têm sido nossas mestras. Mesmo submetidas a tantas violências e violações de seus direitos fundamentais elas demonstram resistência e resiliência nesses dias tão difíceis.
Nós Oblatas, apostamos na utopia: o mundo será um lugar melhor se perseverarmos “na batalha pela justiça social.”
Depoimentos:
“É difícil, tem hora que dá vontade de tomar umas cachaças. Mas agora estou mais controlada vou tomar é um café. A gente tem que se cuidar para proteger os outros.” (T.P.)
“Eu tenho um pacote de arroz e um feijão sobrando aqui em casa. Vou levar para as meninas que estão lá na “casa (albergue da prefeitura).” (TP)
“Ontem as meninas chegaram muito assustadas por tudo que tinha acontecido, a polícia fechando os hotéis e tal… mas depois que chegaram aqui na casa estão mais tranquilas. Dormiram bem a noite e agora estamos preparando nosso café”.(J)
Foto tirada por Ednete