O Cine-Diálogos, evento que faz parte do Projeto Diálogos pela Liberdade, teve seu encerramento hoje, 5 de setembro, com a exibição do filme Anjos do Sol. O longa-metragem foi o centro das atenções do debate proferido por Flávia Gotelip – Coordenadora do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas de MG e pelo professor João Batista Moreira Pinto, da Escola de Direito Dom Helder Câmara (Direitos Humanos e Cidadania).
Anjos do Sol conta a história de Maria (Fernanda Carvalho), uma jovem de 12 anos, que mora no interior do nordeste brasileiro. No verão de 2002 ela é vendida por sua família a um recrutador de prostitutas. Após ser comprada em um leilão de meninas virgens, Maria é enviada a um prostíbulo localizado perto de um garimpo, na floresta amazônica. Após meses sofrendo abusos, ela consegue fugir e passa a cruzar o Brasil através de viagens de caminhão. Mas ao chegar no Rio de Janeiro a prostituição volta a cruzar seu caminho. (sinopse by adorocinema)
O prof. João Batista falou sobre as desigualdades e as formas de poder utilizados para sustentar teias de exploração. Segundo ele, Anjos do sol fala das diferentes formas de controle e da restrição de formas de resistência.
“A realidade de exploração contra as crianças marca muito, pois o caminhar delas parece sem rumo e sem perspectiva após tanta violência. É preciso organizar uma resistência. Os poderes precisam ser articulados para essa transformação”, ressaltou.
Flávia Gotelip iniciou sua fala comentando o filme e apresentou alguns dados. “Anjos do sol retrata uma realidade que é do nosso cotidiano. O projeto MAPEAR mapeou pontos vulneráveis de exploração sexual da criança e adolescente nas rodovias federais do país, e Minas está no ranking com 252 pontos.”
“Se uma pessoa não conhece as formas de migrar com direitos, está em situação de vulnerabilidade por falta de informação. A rede do tráfico de pessoas usa disso para um fim, a exploração. O filme Anjos do Sol mostra a presença do aliciador e da venda de uma menina por sua família, mas para investigação e enquadramento no crime de tráfico, o que importa é o fim, e não o meio.”
“Lidar com o tráfico de pessoas e trajetórias de violações exige muito cuidado. A agenda contra o tráfico de pessoas não pode se sobrepor a outras agendas de lutas. O debate desse tema vem para somar forças ao enfrentamento de vulnerabilidades que sustentam esse crime, como no caso da exploração sexual de menores.”
O público presente enfatizou a prevenção em suas perguntas e deixou a seguinte questão para discussão: como efetivar uma prevenção ao fenômeno do tráfico de pessoas com medidas de proteção reais?
Flávia fez uma análise realista sobre o que tem sido feito atualmente enquanto gestão pública e ressaltou que “enquanto houver desigualdade social, fica difícil falar em eficácia de políticas públicas que vêm minimizar consequências.”
“É preciso discutir a homogeneização da nossa legislação com o protocolo de Palermo. E precisamos nos organizar para instrumentalizar nosso trabalho. Em dezembro teremos um seminário, em formato de conferência, para construir o Plano Mineiro de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.”
Para fechar o debate, o prof. João Batista faz uma provocação: “Dignidade para todos significa também abrir mão de poderes pré-estabelecidos.” E fecha com a reflexão de que a luta contra o tráfico é feita por uma minoria, assim como a solidariedade.
Da organização
Para o Coordenador da Pastoral da Mulher de Belo Horizonte, José Manuel Uriol, “o evento superou todas as expectativas e a participação foi muito grande, tanto por parte de estudantes, professores, pesquisadores; e conseguimos ter um nível de debate sobre a problemática bastante interessante, abordando diferentes causas do Tráfico de Seres Humanos. Também chegamos a analisar criticamente as políticas de enfrentamento e sem dúvida, conseguimos chegar a sensibilizar e conscientizar a muitas pessoas que não tinham um conhecimento exato dessa problemática”.
A Pastoral da Mulher de Belo Horizonte, em nome do Instituto das Irmãs Oblatas do Santíssimo Redentor, agradece ao UNODC – Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime no Mercosul, à OAB – Ordem dos Advogados do Brasil/Minas Gerais e à Escola Superior de Direito Dom Helder Câmara pelo apoio e parceria na realização dos eventos do “Projeto Diálogos pela Liberdade”, que continua a desenvolver formações nas escolas e universidades. O projeto segue com o tema do tráfico de pessoas e também trabalhando as questões de gênero e prostituição. Agradece também a todos os professores, estudantes, pesquisadores e sociedade em geral pela participação e por terem engrandecido o evento.
Confira no link https://www.youtube.com/watch?v=OICTVPYwNCE&feature=youtu.be as palavras de José Manuel, coordenador da Pastoral da Mulher de Belo Horizonte.