Múltiplos olhares, debates e partilha de informações no encerramento do Congresso Diálogos pela Liberdade –

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No segundo dia do Congresso Diálogos pela Liberdade aconteceu o lançamento do documentário “O que a vida fez da gente e o que a gente fez da vida”, produzido pela Pastoral da Mulher de Belo Horizonte sobre a perspectiva de vida de prostitutas atendidas pela instituição, com uma abordagem humana e reveladora sobre a realidade dessas mulheres. Em seguida, abriu-se a mesa de debate com o diretor do documentário, Nelio Souto, Isabel Furtado (psicóloga da Pastoral da Mulher) e José Manuel Uriol (coordenador da Pastoral da Mulher BH).

Para enriquecer ainda mais o evento, o Congresso trouxe também temas que envolvem a teia do tráfico de pessoas. Patricia Mattos abriu as apresentações na mesa redonda “Pobreza, gênero, desigualdade e exploração sexual”, apresentando questões sobre prostituição, abuso infantil, exploração sexual, com as observações de seu trabalho. Carla Bronzo deu sequência e trouxe a seguinte questão: “A pobreza explica o tráfico de pessoas?” Ela apresentou elementos da concepção de vulnerabilidade e ressaltou que “a pobreza vai além da condição material, pois abrange privação de inserção e realização.” Ainda dentro de sua contextualização, Carla destaca que “o Plano Nacional de Tráfico de Pessoas não traz uma conexão com outras políticas públicas para agir de forma preventiva”, despertando a todos para uma reflexão.

Na parte da tarde, o Congresso seguiu com a palestra “O II Plano de enfrentamento ao tráfico de pessoas”, com Heloísa Greco (coordenadora nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas). Ela trouxe informações atualizadas sobre o plano e dados desde a sua concepção, apresentando o fluxo de monitoramento das metas do II plano de enfrentamento ao Tráfico de Pessoas, dentre outros assuntos inclusos neste. Posteriormente, Flávia Teixeira  acrescentou um outro olhar sobre o tema com a palestra “Uma visão crítica das políticas de enfrentamento ao tráfico de pessoas”. Segundo Flávia, “em Minas Gerais existe indicativos importantes de tráfico de pessoas sim, mas é para trabalho – exploração da mão de obra escrava”. Ela destacou que o Tráfico como é contextualizado precisa ser avaliado, pois existem mitos e ilusões a respeito desse fenômeno. Thaddeus Blanchette, professor de antropologia, UFRJ, ligado à ONG da vida, falou sobre a realidade que encontrou em seus 10 anos de pesquisa sobre imigração, turismo sexual e prostituição no Rio de Janeiro, em consonância com a visão trazido por Flávia Teixeira. Segundo ele, existe uma coerção estrutural do capitalismo sobre o tráfico de pessoas que transforma as pessoas que querem imigrar para ganhar dinheiro em “supostas vítimas”. Blanchette diz: “Se elas não negociam com os donos da casa, são denunciadas como imigrantes ilegais … Aí são repatriadas, ou seja, voltam. Mas elas querem voltar? Muitas não…”.

Em uma enfática e proveitosa discussão, dois pontos de vista são colocados frente a frente. Heloísa Greco retomou a palavra e deixou sua mensagem: “abrimos um espaço para o trabalho conjunto. Falta maior envolvimento da sociedade civil, ONGs, universidades para somar esforços ao enfrentamento do Tráfico de Pessoas. O tráfico de pessoas não é uma ilusão.” Ela ainda provoca para a reflexão lembrando que a prostituição, o estigma e o tráfico de pessoas para exploração sexual têm pontos comuns, mas há pontos que devem ser diferenciados para que haja possibilidades de prevenção e enfrentamento real.

A Polêmica sobre migração, prostituição e tráfico de mulheres abriu espaço para um debate mais denso, no qual tod@s puderam falar e serem ouvidos, com ampla participação do público.

Da organização:

Encerramos o Congresso com a certeza de termos proporcionado espaço para o diálogo. Trouxemos a perspectiva de diversos atores da sociedade para iniciar, apenas iniciar, nossa caminhada contra o tráfico de pessoas. Agradecemos pela participação de tod@s!

Mais fotos do evento:

O Congresso Internacional Diálogos pela Liberdade foi encerrado nesta terça-feira, 2 de setembro de 2014. O material será disponibilizado em breve. Convidamos também a participar das atividades que se seguem, como o Cine-Diálogos e a Exposição Meninas do Brasil.

Conteúdos do blog

As publicações deste blog trazem conteúdos institucionais do Diálogos pela Liberdade – Unidade da Rede Oblata Brasil, bem como reflexões autorais e também compartilhadas de terceiros sobre o tema prostituição, vulnerabilidade social, direitos humanos, saúde da mulher, gênero e raça, dentre outros assuntos relacionados. E, ainda que o Instituto das Irmãs Oblatas no Brasil não se identifique necessariamente com as opiniões e posicionamentos dos conteúdos de terceiros, valorizamos uma reflexão abrangente a partir de diferentes pontos de vista. A Instituição busca compreender a prostituição a partir de diferentes áreas do conhecimento, trazendo à tona temas como o estigma e a violência contra as mulheres no âmbito prostitucional. Inspiradas pela Espiritualidade Cristã Libertadora, nos sentimos chamadas a habitar lugares e realidades emergentes de prostituição e tráfico de pessoas com fins de exploração sexual, onde se faz necessária a presença Oblata; e isso nos desafia a deslocar-nos em direção às fronteiras geográficas, existenciais e virtuais. 

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