Enfrentar o estigma em torno das prostitutas : bate- papo com Monique Prada e Santuzza

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Na sessão de abertura da exposição Mulher-Dama que acontece quarta (10), às 18h30, em Salvador-BA será exibido o documentário francês Prostituição, de Jean-François Davy, gravado na década de 1970. Depois do filme que mostra as ocupações de igrejas francesas por prostitutas em busca dos seus direitos, movimento conhecido como a “revolução das putas”, acontecerá um bate-papo com Monique Prada, de Porto Alegre, e Santuzza Alves, de Belo Horizonte.

Enfrentar o estigma em torno das prostitutas e desconstruir o preconceito que incide sobre elas é o principal objetivo do encontro que também terá sessões de cinema nos dias 17, 24 e 31 de janeiro, sempre seguidas de bate-papos. Nas próximas edições, participam convidadas como Fátima Medeiros e Mary Silva, diretoras da Associação de Prostitutas da Bahia – APROSBA (parceira do projeto), de Lourdes Barreto, de Belém (fundadora do Movimento Brasileiro de Prostitutas ao lado de Gabriela Leite), de Diana Soares, de Natal.

“A prostituição no centro de qualquer debate é, e sempre será, de extrema importância, já que somos um grupo de trabalhadoras e trabalhadores estigmatizados e marginalizados”, reforça a mineira Santuzza Alves, que participa do evento de abertura. “O direito de fala nos dá a oportunidade de desconstruir o olhar que a população tem em relação a prostituição, mostrando que somos mães, pais, filhas, filhos, netos e netas que estamos em busca de uma condição de vida melhor para a nossa família e em busca de direitos”, resume Santuzza.

Confira o breve bate-papo com as duas participantes da mesa de abertura

SANTUZZA ALVES, DE BELO HORIZONTE

  1. A exposição Mulher-Dama traz a prostituição para o centro do debate. Em sua avaliação, qual é a importância disso?

A prostituição no centro de qualquer debate é, e sempre será de extrema importância, já que somos um grupo de trabalhadoras e trabalhadores estigmatizados e marginalizados, o direito de fala nos dar a oportunidade de desconstruir o olhar que a população tem em relação a prostituição, mostrando que somos mães, pais, filhas, filhos, netos e netas que estamos em busca de uma condição de vida melhor para a nossa família e em busca de direitos.

  1. Quais são os principais desafios enfrentados nesse universo?

O estigma. Infelizmente o patriarcado faz questão em nos manter a margem da sociedade, mais uma vez ignorando que somos trabalhadores em busca de condições melhores de vida. As tentativas constantes de empurrar a prostituição para os suburbios, é o recado claro ” você homem pode contratar o serviço de uma prostituta, mas você terá que frequentar os piores lugares para ter acesso a esse serviço.”

  1. O que pode nos contar sobre sua história?

Minha história é como a história de milhares de mulheres, mulheres que sofreram aborto masculino e se viram sozinhas para criar seus filhos dispostas a não deixar faltar nada,o principal uma vida digna.

  1. Por fim: qual é a sua idade?

Minha idade? Ah, não se pergunta a idade de uma mulher.

MONIQUE PRADA, DE PORTO ALEGRE

  1. A exposição Mulher-Dama traz a prostituição para o centro do debate. Em sua avaliação, qual é a importância disso?

É muito importante que possamos discutir a questão da gentrificação e higienização das cidades a partir do ponto de vista das trabalhadoras sexuais, que são as primeiras pessoas a sofrerem os seus efeitos. A exposição Mulher-Dama traz essa questão para o centro do debate sobre gentrificação por que ela já está lá, embora a sociedade prefira fingir que não existimos, que não precisamos existir. Ou que nossa existência é desimportante, embora as trabalhadoras sexuais estejam presentes fortemente em todas as esferas da sociedade.

  1. Quais são os principais desafios enfrentados nesse universo?

Embora a prostituição não seja e nem nunca tenha sido crime no Brasil, tido em seu entorno é criminoso, o que nos obriga a viver na clandestinidade e de modo inseguro. O grande desafio é a legalização de nosso trabalho em todas as pontas, e isso é o que defende a Anistia internacional na defesa dos direitos das mulheres, e a Organização Mundial da Saúde, como estratégia para permitir a contenção do crescimento da nova epidemia de HIV no mundo (bom lembrar que a ilegalidade em muitos países transforma o preservativo em prova de prostituição). A luta contra o estigma neste contexto também tem grande importância.

  1. Como será sua participação no bate-papo do dia 10? O que pretende abordar?

Abordaremos essas questões sobre como o estigma prejudica não só às Trabalhadoras sexuais mas prejudica a todas as mulheres. Todas as mulheres precisam ter medo de ser vistas como prostitutas, essa é a estratégia da sociedade patriarcal para manter as coisas como são. O estigma de puta colabora de modo definitivo para a manutenção do sistema.

Serviço

O quê: Exposição Mulher-Dama

Abertura: 9 de janeiro de 2018, a partir das 18h

Visitação: 10 de janeiro a 10 de março, de terça à sábado, das 10 às 18h

Local: Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira – Muncab (Rua do Tesouro, s/n, Centro | 3022-6722)

Entrada Gratuita
Fonte: http://www.correio24horas.com.br
 

Conteúdos do blog

As publicações deste blog trazem conteúdos institucionais do Diálogos pela Liberdade – Unidade da Rede Oblata Brasil, bem como reflexões autorais e também compartilhadas de terceiros sobre o tema prostituição, vulnerabilidade social, direitos humanos, saúde da mulher, gênero e raça, dentre outros assuntos relacionados. E, ainda que o Instituto das Irmãs Oblatas no Brasil não se identifique necessariamente com as opiniões e posicionamentos dos conteúdos de terceiros, valorizamos uma reflexão abrangente a partir de diferentes pontos de vista. A Instituição busca compreender a prostituição a partir de diferentes áreas do conhecimento, trazendo à tona temas como o estigma e a violência contra as mulheres no âmbito prostitucional. Inspiradas pela Espiritualidade Cristã Libertadora, nos sentimos chamadas a habitar lugares e realidades emergentes de prostituição e tráfico de pessoas com fins de exploração sexual, onde se faz necessária a presença Oblata; e isso nos desafia a deslocar-nos em direção às fronteiras geográficas, existenciais e virtuais. 

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