O grande momento para começar a cultivar a solidariedade

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Nunca pensamos em viver um momento como esse no século XXI. Vivenciar um inimigo invisível, um vírus capaz de nos fazer estar longe de tudo que gostamos (e que não gostamos), algo DESCONHECIDO, que não escolhe raça, classe ou gênero – atinge a todos e todas – embora analisemos as particularidades dos seus privilégios, ou seja, os mais vulneráveis (pobres, negros, mulheres) são afetados diretamente por todos os efeitos da pandemia. Percebemos que em meio a toda essa crise sanitária mundial, dentro de cada indivíduo, nasce e/ou aflora uma característica que muitas vezes é ignorada: a solidariedade.

Esse desconhecimento o torna tão assustador e perigoso, nos faz sentir incapazes diante de situações simples do dia a dia, interrompe-se a vida pública e econômica de milhões de pessoas e ainda nos deixa restritos a liberdade; e o fator pior é que cada um de nós seja um potencial vetor do vírus, consequentemente os olhares receosos para as pessoas que estão no mesmo espaço físico se tornam inevitáveis, a conversa e o toque é quase inexistente. Mas, mesmo diante de toda essa loucura as práticas de empatia e solidariedade é percebida diariamente, como: o bilhete na porta de um idoso oferecendo ajuda para ir ao mercado, se disponibilizando para um passear com os cachorros dos seus vizinhos, a distribuição de cestas básicas ou até uma mesa com itens de mercado na porta de casa. Essas são práticas recorrentes nas cidades do mundo inteiro. Mas será essa mesma uma atitude genuinamente solidária? Até quando essa solidariedade durará? Acreditamos realmente em práticas de empatia? Seriam apenas atos “de solidariedade” nos quais esperamos retorno?

Esses são os questionamentos de muitos durante esse período, mas é importante pensar que ações como essas estão sendo feitas para o outro, para minimizar o impacto negativo desta crise no outro. O fato de acreditarmos que por trás de boas atitudes pode existir um jogo político, fazer esperando um retorno, desqualifica, assim, a solidariedade. E se essas atitudes poderão ser direcionadas para a vida de quem faz, se puder ser disseminada pelo mundo com certeza já é uma “gota d’água no meio do oceano”. Quando estamos todos no “mesmo lugar” criamos atitudes de solidariedade e empatia. Segunda a zen budista Monja Coen em tempos de pandemia se “começa a haver um movimento de solidariedade. Se a pandemia servir para o despertar da consciência humana, é a coisa mais importante que pode acontecer.” Esse despertar de consciência do ser humano é o que acreditamos durante a pandemia, mas também depois que a crise passar e nós, caso, permanecermos dentro de um mundo mais resiliente, sem interesses capitalistas, será possível viver essa experiência de empatia integral? Não será uma utopia? Há quem diga que a utopia dirige nossos sonhos.

Dessa pandemia, que possamos sair mais fortes e resilientes!

Dentro das discussões de solidariedade, empatia e ajuda ao outro, podemos destacar esse fenômeno atuante desde sempre, entre as mulheres. Historicamente, o cuidar foi vinculado socialmente ao feminino. E são as mulheres, majoritariamente, as responsabilizadas para o cuidado aos outros, são elas que renunciam em benefício de outrem. As “rodas de mulheres” e os grandiosos gestos de empatia construiu-se ao longo da história onde umas cuidavam das outras. É notável que nós mulheres sempre desenvolvemos estratégias para os momentos mais caótico em nossa sociedade, nós pensamos além dos problemas pessoais e individuais, tomamos consciência que a transformação precisa ser discutida a partir de uma esfera coletiva e política. Em uma crise sanitária da qual vivenciamos não será diferente. As redes só se fortalecerão mais e criarão táticas de atuação em que podemos compartilhar experiências e solidariedade. Do “Como vai?” pelo aplicativo de mensagem ao atendimento psicológico virtual ou a doação de algo material, nós mulheres estamos evidenciando a importância do coletivo e da sororidade.

“O papel de tomar conta da família, invisível e não remunerado, recai sobre as mulheres. Em meio à crise sanitária, Estado deveria se responsabilizar. Após o desastre, será preciso construir um mundo baseado no bem comum e na solidariedade.Quando um vírus se alastra entre países, o caos e o medo gerado por isso acabam revelando muito sobre como a nossa sociedade se organiza e quais são seus principais problemas. No caso do Coronavírus, estamos vendo como se acirram as desigualdades de gênero, raça e classe, até o ponto de inviabilizar medidas como o isolamento social para uma boa parte da população. Nas nossas vidas e ao nosso redor, as mulheres são fundamentais nas tarefas de cuidado, por seu trabalho nos serviços de saúde e assistência, nas comunidades onde vivem, nas casas em que trabalham ou nas suas próprias famílias atendendo às crianças e idosos. Cuidar é um trabalho duro, árduo, emocionalmente exigente, tenso, que sobrecarrega muito mais as mulheres do que os homens nesta sociedade patriarcal em que vivemos. Por isso, uma pandemia como da Coronavírus também nos coloca diante da necessidade da coletividade e da necessidade de repensar a vida em sociedade.” (CFEMEA, 2020)

SORORIDADE!? Essa é a palavra da moda, mas que se tornou eficaz no cenário feminino. No livro recém lançado, Sororidade: Quando a Mulher Ajuda a Mulher, a jornalista e autora do livro Paula Roschel, conceitua a palavra e a refere como mais que um ato coletivo de solidariedade e companheirismo, ressalta a importância da luta entre nós mulheres por políticas públicas efetivas e a equidade de gênero nas diversas esferas sociais e políticas. Além de exaltar o compromisso da rede de apoio para fortalecer outras mulheres – viver o conceito de Sororidade e o sentimento de irmandade, mesmo com pautas diferentes. A aliança entre as mulheres pode fazer a diferença no enfrentamento às grandes crises mundiais, é o caso da pandemia da COVID 19, as melhores estratégias e ações preventivas com resultados significativos no combate tem sido eficaz em países dirigidos por mulheres, a sensibilidade e o apreço pela vida humana modificam as formas de enfrentamento e por consequência os efeitos da pandemia nestes países, além de estarem na linha de frente do enfrentamento à crise sanitária (BBC, 2020). Há décadas nos apresentaram como simples coadjuvantes das decisões sociais e políticas da sociedade. Percebemos nitidamente o protagonismo da mulher em diversas áreas de atuação, seja ela social, de saúde ou jurídica e ainda se dividem no papel social de mãe, esposas, chefes de seus trabalhos, entre outras funções, saliento que os trabalhos domésticos acompanhado do home office – que parece ser algo fácil – é completamente desgastante, exaustivo e atinge diretamente a sua saúde mental. As mulheres vêm ocupando espaços com muita propriedade, mas ainda há um caminho muito longo a percorrer para conseguirmos construir uma sociedade que dialoga sobre a equidade de gênero e reconhece a sua contribuição.

Reflexão de Alessandra Nascimento Gomes (Coordenadora da Unidade Força Feminina da Rede Oblata) 

Leia o texto na Íntegra no Blog do Força FemininaClique aqui

REFERÊNCIAS

Acompanhe outras reflexões da Rede Oblata :

https://ffeminina.oblatassr.org/

https://pastoraldamulher.oblatassr.org/

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Conteúdos do blog

As publicações deste blog trazem conteúdos institucionais do Diálogos pela Liberdade – Unidade da Rede Oblata Brasil, bem como reflexões autorais e também compartilhadas de terceiros sobre o tema prostituição, vulnerabilidade social, direitos humanos, saúde da mulher, gênero e raça, dentre outros assuntos relacionados. E, ainda que o Instituto das Irmãs Oblatas no Brasil não se identifique necessariamente com as opiniões e posicionamentos dos conteúdos de terceiros, valorizamos uma reflexão abrangente a partir de diferentes pontos de vista. A Instituição busca compreender a prostituição a partir de diferentes áreas do conhecimento, trazendo à tona temas como o estigma e a violência contra as mulheres no âmbito prostitucional. Inspiradas pela Espiritualidade Cristã Libertadora, nos sentimos chamadas a habitar lugares e realidades emergentes de prostituição e tráfico de pessoas com fins de exploração sexual, onde se faz necessária a presença Oblata; e isso nos desafia a deslocar-nos em direção às fronteiras geográficas, existenciais e virtuais. 

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